O tempo nestas alturas flui com uma lentidão profundamente dolorosa. Porque o tempo de distanciamento dos dias de música, dos dias de afectos se tornou insuportável.
Os dias deixaram de ser forrados de azul e salpicados de estrelas. Dormir, o sono dos justos é o estado mais repousante que consigo alcançar nos dias que correm. A dolorosa despedida dos meus lençóis... quentinhos, ao longo dos tempos estabelecemos uma relação patológica, uma dependência!
Semanas camufladas de azul, um azul que não se vê bem mas que se sente, apesar da poluição atmosférica que impede um olhar transparente de um azul profundo que não se vê mas que se sente. Um toque, dois, três ....que me tocam, a tua ausência presente!
Uma amálgama de situações antagónicas e martirizantes, verdadeiramente dolorosas e ao mesmo tempo terrivelmente doces e apetecíveis.
Um contentamento descontente, um mar de sensações e afectos em que mergulhamos na tentativa de encontrar um tesouro perdido.
Certo tipo de dor é inevitável quando se vive um grande amor e nunca se entende muito bem essa perda.
Dispo-me de intenções, numa hemorragia de sonhos que se escapam nas entrelinhas do desejo e da vontade de alcançar o azul. Por todos os poros transbordo desilusão!
Hoje ondulei pelo dia sem saber bem porque o sentia derradeiramente nostálgico, não mudou nada e ao mesmo tempo parece que mudou de forma avassaladora.
Anoiteceu e hoje apetece-me quente, apetece-me cobertores e um bom filme. Hoje apetece-me sonhar com um amanhã diferente. Hoje apetece-me relembrar-te esquecendo-te, esquecer-te relembrando-te.