domingo, dezembro 30, 2007

Em busca de um quadro Azul...

Eduardo Viana
k4. O quadro do azul - 1916

... no tempo e no espaço... um quadradinho azul!
Com diversas formas, cores e sabores e nada de saudosismo!

That's my new year wish!


Do silêncio...





Alain Dumas

...de se estar a descoberto
e adormecer com a sensação de não se possuir nada
a não ser um corpo!



domingo, dezembro 23, 2007

Sem rosto




"Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões da madeira fria.

És uma faca cravada na minha vida secreta.

E como estrelas duplas consanguíneas, luzimos de um para o outro nas trevas."


A carta da paixão, Herberto Helder



quinta-feira, dezembro 20, 2007

13º Apóstolo em Perspectiva(s)








Aprendo todos dias convosco e a maior das aprendizagens é a relativizar os problemas com uma piada e um sorriso. Não temos ovos mas fazemos omoletes, ou algo parecido!

Nunca me esqueço que face a um problema seja qual for a sua natureza existe sempre uma solução... posso sempre dar um tiro no pé ou cortar os pulsos!

E ter essa opção faz-me sorrir ao contrário do que seria de esperar, pela ternura com que ouvem e partilham os problemas, pelo humor, pela brincadeira. A união faz a força! Vocês são um mimo na minha vida! Adoro-vos!





quarta-feira, dezembro 19, 2007

Les yeux au ciel




De coração ressequido e olhos inchados...






... a desejar que me ames menos, mas por mais tempo!


(Inspirado no filme Les Chansons D'amour, 2007, Christhophe Honoré)



Estrelas



Quando as estrelas se passeiam pelo chão...
E estão ao alcance da tua mão...
Te trazem luz e inspiração...




Tu finges que não... não sentes... nem as vês!


domingo, dezembro 09, 2007

Sensações


O tempo nestas alturas flui com uma lentidão profundamente dolorosa. Porque o tempo de distanciamento dos dias de música, dos dias de afectos se tornou insuportável.

Os dias deixaram de ser forrados de azul e salpicados de estrelas. Dormir, o sono dos justos é o estado mais repousante que consigo alcançar nos dias que correm. A dolorosa despedida dos meus lençóis... quentinhos, ao longo dos tempos estabelecemos uma relação patológica, uma dependência!

Semanas camufladas de azul, um azul que não se vê bem mas que se sente, apesar da poluição atmosférica que impede um olhar transparente de um azul profundo que não se vê mas que se sente. Um toque, dois, três ....que me tocam, a tua ausência presente!

Uma amálgama de situações antagónicas e martirizantes, verdadeiramente dolorosas e ao mesmo tempo terrivelmente doces e apetecíveis.

Um contentamento descontente, um mar de sensações e afectos em que mergulhamos na tentativa de encontrar um tesouro perdido.

Certo tipo de dor é inevitável quando se vive um grande amor e nunca se entende muito bem essa perda.

Dispo-me de intenções, numa hemorragia de sonhos que se escapam nas entrelinhas do desejo e da vontade de alcançar o azul. Por todos os poros transbordo desilusão!

Hoje ondulei pelo dia sem saber bem porque o sentia derradeiramente nostálgico, não mudou nada e ao mesmo tempo parece que mudou de forma avassaladora.

Anoiteceu e hoje apetece-me quente, apetece-me cobertores e um bom filme. Hoje apetece-me sonhar com um amanhã diferente. Hoje apetece-me relembrar-te esquecendo-te, esquecer-te relembrando-te.


sexta-feira, dezembro 07, 2007

Já tão longe de ti como de mim




"Agora que o silêncio é um mar sem ondas, e que nele posso navegar sem rumo... Não respondas às urgentes perguntas que te fiz, deixa-me ser (in)feliz assim, já tão longe de ti como de mim. Perde-se a vida a desejá-la tanto. Só soubemos sofrer, enquanto o nosso amor durou. Mas o tempo passou, há calmaria... Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria matar a sede com água salgada."

Miguel Torga, Súplica


domingo, novembro 25, 2007

SAD(ly mistaken)



You’ve been my golden best friend
Now with post-demise at hand
Can’t go to you for consolation
Cause we’re off limits during this transition

This grief overwhelms me
It burns in my stomach
And I can’t stop bumping into things

I thought we’d be simple together
I thought we’d be happy together
Thought we’d be limitless together
I thought we’d be precious together
But I was sadly mistaken

You’ve been my soulmate and mentor
I remembered you the moment I met you
With you I knew god’s face was handsome
With you I suffered an expansion

This loss is numbing me
It pierces my chest
And I can’t stop dropping everything

I thought we’d be sexy together
Thought we’d be evolving together
(...)
But I was sadly mistaken

If I had a bill for all the philosophies I shared
If I had a penny for all the possibilities I presented
If I had a dime for every hand thrown up in the air
My wealth would render this no less severe

I thought we’d be genius together
I thought we’d be healing together
I thought we’d be growing together
Thought we’d be adventurous together
But I was sadly mistaken

Thought we’d be exploring together
Thought we’d be inspired together
I thought we’d be flying together
Thought we’d be on fire together
But I was sadly mistaken


Alanis Morissette, Simple Together


segunda-feira, novembro 19, 2007

Captain Corelli's Mandolin





Iannis: When you fall in love, it is a temporary madness. It erupts like an earthquake, and then it subsides. And when it subsides, you have to make a decision. You have to work out whether your roots are become so entwined together that it is inconceivable that you should ever part. Because this is what love is. Love is not breathlessness, it is not excitement, it is not the desire to mate every second of the day. It is not lying awake at night imagining that he is kissing every part of your body. No... don't blush. I am telling you some truths. For that is just being in love; which any of us can convince ourselves we are. Love itself is what is left over, when being in love has burned away. Doesn't sound very exciting, does it? But it is!


......................................................................................


Iannis: [writing to Corelli] Antonio, I do not know if this letter will reach you, or even if you are alive. Perhaps someone else sent your record, and that is why we found no note. I would like to say that Pelagia is happy, but she is full of tears she will not let fall, and of a grief no doctor can mend. She blames herself for the pain we have suffered, and perhaps the same is true for you. You know I am not a religious man, but I believe this: if there is a wound, we must try to heal it. If there is someone whose pain we can cure, we must search till we find them.


Absolutely.






George: Do I still Love you? Absolutely. There is not a doubt in my mind. Through all my mind, my ego... I was always faithful in my love for you. That I made you doubt it, that is the great mistake of a life full of mistakes. The truth doesn't set us free, Robin. I can tell you I love you as many times as you can stand to hear it and all that does, the only thing, is remind us... that love is not enough. Not even close.

Life as a House, 2001


domingo, novembro 18, 2007

Life as a House

George: I always thought of myself as a house. I was always what I lived in. It didn't need to be big. It didn't even need to be beautiful. It just needed to be mine. I became what I was meant to be. I built myself a life. I built myself a house.

George: You know the great thing, though, is that change can be so constant you don't even feel the difference until there is one. It can be so slow that you don't even notice that your life is better or worse, until it is. Or it can just blow you away, make you something different in an instant. It happened to me.


P.S. I sure hope it happens to me and you...

and you and you....

and you!



domingo, novembro 11, 2007

...sei lá de quê





"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê!"

Florbela Espanca

sábado, novembro 10, 2007

Urgências





Dias de agonia, de dor física. O meu corpo deu de si. Depois de uma semana a lutar contra uma inflamação maldita, que insistiu em ficar e resistir. Urgências! Injecções, agulhas e soro. A enfermeira diz-me que deixei as veias em casa, que estão demasiado fundas. Ainda pensei explicar-lhe que nos dias que passam de facto não as sinto, não me sinto. Arrasto-me, cansada e exausta de tanta letrinha miudinha. Desespero com preocupações de natureza óptica. Eu bem te disse que nas terras do Liz faz muito frio, que sem ti ... não sou eu... não existem forças, nem ânimo apenas eu a lutar para sobreviver a "tempos" difíceis. Ficámos ambos suspensos em tempos e espaços separados. Será que alguém poderá dar corda a este relógio gigante??? Ambos somos e seremos sempre eternos estudantes, a realização pessoal reveste-se de razões que nos movem e alentam. Somos tão parecidos nisso. Tenho saudades e não me canso de te dizer. Já nem sei se EXISTES mesmo se és fruto da minha imaginação... mas quando olho para as minhas mãos e caio na tentação de fazer as contas, a constatação de que uma mão já não chega rouba-me duplamente a vida.

Urgências:

- Estabelecer prioridades;

- Pensar em estratégias inteligentes para obter o que preciso;

- Tropeçar em ti!*

* O mais depressa possível...



sexta-feira, novembro 02, 2007

Escrever(-me) continuamente






A escrita é a minha primeira morada de silêncio

a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras

extensas praias vazias onde o mar nunca chegou

deserto onde os dedos murmuram o último crime

escrever-te continuamente... areia e mais areia

construindo no sangue altíssimas paredes de nada

esta paixão pelos objectos que guardaste

esta pele-memória exalando não sei que desastre

a língua de limos

espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos

as manhãs chegavam como um gemido estelar

e eu perseguia teu rasto à beira-mar

outros corpos de salsugem atravessam o silêncio

desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo


Al Berto, O medo
Lisboa, Assirio & Alvim, 1997



quinta-feira, novembro 01, 2007




As cores não estão nos seus lugures, mas será que tem lugares? As cores estão tristes, mas será que sentem? As cores frias esqueceram-se de confraternizar com as cores quentes. As cores andam perdidas. Esqueceram-se que a vida se esgota como o virar de uma ampulheta.

domingo, outubro 28, 2007

SUPERstarS



Your heart is broken, and you don’t seem to mind
I guess it happened a little too many times, too many times
You try and you got tired, those long a brighten stories
You weald a fire right under the snow
They don’t they don’t
How could they really know
They don’t

They don’t know how it really feels
They’re just on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance
Dance with you
I felt like superstars do
Me and you
We’re just like superstars

I was around you
You couldn’t really tell
I held you close while
While you drove, you just drove into hell
You know!
A kind of hurt that burns
A light that loves you blind
And while your feet go
They go deeper in the sand
You wave and drown
You rave to the crown that says

But they don’t know how really feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance with me
Yeah you did that crazy dance
You did that crazy dance with me

You did that crazy dance (7x)

Coz they don’t know how it feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see us cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance to me
As I dance whith you
I felt like superstars do
Me and you
We felt like superstars
Me and you (2x)


P.S. Latada 2007: eu fui ...e foi quase perfeito,
faltou-me apenas aquele abraço!

Quando dançamos juntos é simplesmente perfeito!

Shall we dance?


quarta-feira, outubro 24, 2007

Invenção do Amor



Preciso que inventes amor com carácter de urgência!

In_love_by_angrymouse


Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o

Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto
Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros
É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo que

inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua

Daniel Filipe, 1972

In a invenção do amor e outros poemas


domingo, outubro 21, 2007

L'amour...




...

sábado, outubro 20, 2007

Start over again



I never really understood that stuff
Days fall into nights
But wrong won't turn to right

When you reach the top of the tree
And there's nothing left to see
Do we lay and die?
Another on to run dry

So what's this life
What's this life we've chosen?
What it would be like
If we started all over again?

Oh please tell me about love
I never really understood that stuff

So what's this life
What's this life we've chosen?
What it would be like
If we started all over again?
And I just might,
I just might be brave and bold
And what it would be like
If we started all over again?

David Fonseca,
(who else could be???)


sexta-feira, outubro 19, 2007

Rizoma





Roots by Sara Ribeiro

O que eu sinto é como um rizoma

Toda eu sou rizoma ramificações de sentimentos e vivências que se expandem em direcções indeterminadas. O núcleo arrancas-te-me hoje, não existe, nunca existiu. Pobre de quem acredita no bom fundo das pessoas. Quebrou-se o vidro. Sinceridade outrora foi palavra-chave. Gélida, entorpeço! Já não me corre vida nas veias apenas uma amostra de vida. Já nem tenho palavras… parou-me o relógio central com o susto. Do núcleo e do profundo fugiu a lágrima que não mereceste …qual facada pelas costas. Estilhaços de mim pelo chão... e desta vez eu não tenho forças para apanhar, eu não tenho fé, eu não tenho nada.


quinta-feira, outubro 18, 2007

Metáfora do dia-a-dia: viagem inventada





Algures por descobrir ..
Passo a passo ...
Eu e tu!

"Era uma viagem inventada no feliz;
produzia-se em casa de sonho."



J. Guimarães Rosa


segunda-feira, outubro 15, 2007

Dos Sabores e dos Amores...





Image by Lou Crouchet


Não gosto de sabores mesclados e misturados,

Gosto de cada sabor no seu lugar.

Não gosto de sentir pedaços,

Gosto dos sabores por inteiro.

Não abdico da panóplia de sabores,

Mas quero poder identificá-los um a um...

Conhecê-los, apreciar ao máximo

Diferenciar, tocar, sentir, ver, cheirar...



domingo, outubro 14, 2007

Em ti...



Penso em ti: sinto em mim a nostalgia
desse abraço que fica tão distante
e, mesmo assim, nos liga dia-a-dia
e nos aproxima a todo o instante.

Penso em ti: sinto em mim essa tremura
que se espalha ao longo dos meus braços
e te envolve comigo na ternura
com que te aperto a mim, em mil abraços.

Penso em ti: e respiro bem melhor
por saber que te tenho ao meu lado
e que o ar que respiro é o calor
da aragem da amizade em duplicado.

Penso em ti: e pensar é já viver
contigo residindo no meu peito
aprendendo, afinal, a conviver
contigo, tal qual és, desse teu jeito.

E sinto que afinal valeu a pena
sentir como tu sentes a vontade
de viver assim, de forma plena,
este sabor intenso da Amizade.


Fernando Peixoto in "Penso em Ti"

Do sol dos sonhos...






O sol dos sonhos ... metáfora maravilhosa para denominar a esperança implícita no meu olhar. Quando sei que finalmente vou poder tocar-te, sentir-te por perto e poder acreditar que sim ... que depois de tanto tempo também podemos ter direito a um bocadinho de céu, um bocadinho azul. Mas eis que surge o quando... um advérbio temporal gracioso... mas quando ?... um dia destes quem sabe... subjectividade lacerante e hemorragicamente alucinante, porque era para ontem... vou acreditar.. porque o sol dos sonhos me diz para acreditar, a esperança.

E olhar do rés-do-chão da vida para os dias já pisados é sempre encontrar um mar sem fim de vivências, uma tempestade apaziguadora, em que de facto a paz interior é utopia dos sonhadores, dos que dormem uma noite, sem acordar, uma só vez que seja para interromper um dos mais sagrados momentos de descanso e pureza. Mas em nome da aventura perco-me no tempo e estico faço de uma semana um mês e de um dia a alegria. E tento dormir no intervalo de cada capítulo, um olho aberto e outro fechado, apenas por precaução é que a vida pode passar e eu perdê-la naquele micro-segundo em que o mundo pula, anda e avança.



terça-feira, outubro 09, 2007

Ícaro





O sol dos Sonhos derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida...

Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.


Miguel Torga


sábado, outubro 06, 2007

As meninas dos olhos dele: as palavras


PALAVRAS

Não largo um amor sonhado pelas palavras sentidas que acordam os abismos


SEXO MATEMÁTICO

uma vez dancei contigo o teu corpo a sentir não esqueci dois corpos enlaçados são um terceiro desigual da soma dos dois quem era esse intruso indecente no meio de nossas carnes?


AMOR ARITMÉTICO

amo adoro sou louco por todo e qualquer milímetro de teu corpo dividido em milionésimas de fracções elevadas ao mais puro desejo vezes mil


AMOR GEOMÉTRICO

mãos de amor e afecto percorrem superfícies geodésicas de tuas carnes curvas projectando desejos hexagonais no círculo infinito do nosso amor afecto geométrico sem arestas nem equação


João Costa in www.pedravermelha.com



terça-feira, outubro 02, 2007

Processo de Equilibração= Acomodação + Assimilação




Rosaly Gripp, Balança de corda


"A nossa predisposição natural não nos permite ficarmos contentes só por existirmos; consequentemente, quando as experiências novas não se ajustam às nossas assimilações anteriores, perguntamo-nos porquê. Esta é a motivação de aprendizagem básica para dominar situações problemáticas."

Norman Sprinthall and Richard Sprinthall, McGrawHill (1993)




Ora bem, ora bem... isto só pode ser coisa das miudas da psicologia e afins dirias... Mas de facto é incrível como às vezes sem querer a realidade se aplica tão bem. O processo de equilibração é demorado apenas porque as aprendizagens anteriores que fiz me comprovaram algo diferente, algo que existiu no plano concreto e abstracto se assim se pode dizer. É que as minhas novas aprendizagens contigo demoram mais tempo a assimilar por uma questão muito simples que se resume numa palavrinha. Pois é passam os anos e eu contínuo a perguntar-(te)me: Porquê?

Preciso de andaimes para chegar ao meu desenvolvimento potencial na resolução deste quebra-cabeças, desta situação problemática. Mas tens que andaimar percebes?
Para que ambos possamos chegar a um nível de desenvolvimento proximal, que é como quem diz a um nível de conhecimento, um andaime ou dois, acima capiche?

P.S. Cuidado com a gata tu tb!


domingo, setembro 30, 2007

Não desisti de habitar a arca azul...






Não desisti de habitar a arca azul
do antiquíssimo sossego do universo.
A minha ascendência é o sol e uma montanha verde
e a lisa ondulação do mar unânime.
Há novecentas mil nebulosas espirais
mas só o teu corpo é um arbusto que sangra
e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.
Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes
vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.
Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos
de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.
Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,
sorvo o cálice do teu sexo de orquídea incandescente!
A minha vida é uma lenta pulsação
sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.
Há bois lentos e profundos no meu corpo
de um outono compacto e negro como um século.
Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos
a deusa da noite, sonâmbula, desliza.
Ao rumor da folhagem e da areia
escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.
Prisioneiro de longínquas raízes
ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.
Vislumbro uma luz incompreensível
sobre os campos áridos das semanas.
Elevo o canto profundo do meu corpo
sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.
Escrevo como se escrevesse com os meus pulmões
ou como se tocasse os teus joelhos planetários
ou adormecesse languidamente



António Ramos Rosa
Três - 1975
in Antologia Poética


sábado, setembro 29, 2007

Algo que abre caminho desde dentro...





Há um brusco agitar e o roçar de algo que escorrega brandamente, lubrificado por águas espessas. Há um urgente impulso para a frente, uma viragem na postura. Há um tacto desconcertado, a passagem de uma fronteira elástica, uma comichão dolorosa, uma luz que fere, uma agitação desconhecida e rítmica, algo que abre caminho desde dentro, um grito. O espaço ondulou amorosamente. Muito tempo depois eu soube que tinha sido embalado. Na altura não sabia nada porque ainda não havia ninguém que pudesse saber. Eu cheguei depois, quando essa consciência colada às sensações se foi tornando independente, distanciando-se das impressões, que começavam a ser coisas. Grandes ritmos organizavam tudo: o desassossego e a calma, a vigília e o sono. Por fim apareceram os rostos, as palavras, o divertido som de um guizo, as canções de embalar, os beijos, os sorrisos, tão divertidos de imitar, e também o EU, o meu eu, como o centro da paisagem. Cheguei a reconhecer-me num espelho. Primeiro havia estados agradáveis ou incómodos, depois houve visões que atraíam ou aborreciam, depois vi objectos, por fim vi-me a ver objectos: tinha reflectido.

in Aprender a viver by José António Marino (2007)


T2

Apenas tenho que virar

A minha vida de pernas para o ar

E procurar uma casa para eu morar


Um pequeno T2 onde podemos viver os dois

Com vista para o mar e um jardim

Um carro com tecto de abrir




Ricardo Azevedo

quinta-feira, setembro 27, 2007

Todos os dias...





Yakovina - Influence of a music



Porque raramente me aprendes....

Se eu te aprendo todos os dias?





segunda-feira, setembro 24, 2007

Lis ...



Desabrochar na procura de significados
Na descoberta infinita
De um primeiro olhar que não acaba nunca
Descobrir que o que um dia foi castelo e muralha
Pode amanhã ser pedra e pó
E contemplar cada janela
Como um mundo de possibilidades
Como luz que nos ilumina
Não perder o mais belo pormenor
Através das inúmeras perspectivas
Câmara, luzes, acção...



domingo, setembro 16, 2007

Aforismos


"Como as gaivotas e as ondas se encontram, nos encontramos e nos unimos.

Vão-se as gaivotas voando, vão pairando sobre as ondas; e nós também vamos.

Se de noite choras pelo sol, não verás as estrelas.

A luz do sol me saúda sorrindo.

A chuva, sua irmã triste, fala-me ao coração.

Se faço sombra em meu caminho, é porque há uma lâmpada em mim que ainda não foi acesa.

Teu sol sorri nos dias de inverno de meu coração, e não duvido jamais das flores de tua primavera.

Quando o dia cai, a noite o beija e lhe diz ao ouvido:

Sou tua mãe a morte, e te hei de dar nova vida'.

O mistério da vida é tão grande como a sombra na noite.

A ilusão da sabedoria é como a névoa do amanhecer.

Lemos mal o mundo, e dizemos logo que nos engana.

A borboleta conta momentos e não meses, e tem tempo de sobra.

Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.

Cada criança nos chega com uma mensagem de que Deus ainda não se esqueceu dos homens.

Elogios me acanham, mas secretamente imploro por eles."


Tagore


sábado, setembro 15, 2007

Se me é negado o amor





"Se me é negado o amor, porque, então, amanhece;
por que sussurra o vento do sul entre as folhas recém nascidas?
Se me é negado o amor, porque, então,
A noite entristece com nostálgico silêncio as estrelas?
E porque este desatinado coração continua,
Esperançado e louco, olhando o mar infinito?"

Rabindranath Tagore