domingo, fevereiro 01, 2009

Nas grandes horas em que a insónia avulta...







"Como um novo universo doloroso,

E a mente é clara com um ser que insulta

O uso confuso com que o dia é ocioso,

Cismo, embebido em sombras de repouso

Onde habitam fantasmas e a alma é oculta,

Em quanto errei e quanto ou dor ou gozo

Me farão nada, como frase estulta.

Cismo, cheio de nada, e a noite é tudo.

Meu coração, que fala estando mudo,

Repete seu monótono torpor

Na sombra, no delírio da clareza,

E não há Deus, nem ser, nem Natureza

E a própria mágoa melhor fora dor."


31-8-1929
Fernando Pessoa