sexta-feira, março 17, 2006

(In)Dependência

Da (in)dependência à libertação

"Olhos vazios à espera de algo
Que ninguém vê
Braços estendidos na ânsia de um gesto
Que ninguém descobre.
Água adormecida no fundo do peito
Que ninguém enxuga.

Sabores proibidos
Alimentados de instantes
Eclodindo na fragilidade dos dias.
Ânsias que dilaceram os sentidos
Abandonados a um turbilhão de desejos
Por cumprir
Relâmpagos de prazer nutridos de dor
A cada momento revivida e amaldiçoada
Gosto amargo
Tempo de indiferença
Mergulhado em raízes de solidão.

Busca a rocha o cais
A mão
Que lhe há-de restituir os sonhos
Para os ancorar no real
De uma vida partilhada.
Já não colhe no ar
Os calafrios do medo
Quebrado por lampejos fugazes.
Faz da insegurança a sua força
Alojada no oiro da fala
E tecida com os fios da mudança
Para novos mundos recriar.

Acenderam-lhe o sol
Onde nasce todos os dias
Como uma flor de trigo
Prestes a amadurecer
Com a amizade
A persistência e a vontade
Abrem-se-lhe as planícies e mares
Na certeza de que a terra e o céu
Sem o seu respirar não existiriam.

Na alma cresceu-lhe uma pérola
No rosto
Trás um nome esculpido

ESPERANÇA"


A., M. I. (1994).