segunda-feira, maio 23, 2011

Clarividência

Ontem a tensão era imensa... os fins de semana intensificam o sofrimento da ausência, o terror da angústia intensifica. Peguei em 4 livros que estão na secretária faz uns meses e devorei horas a fio. E foi tão bom. Acendi o incenso, inspirei bem fundo e a paz foi-se instalando. O livro foi tão libertador, identifiquei-me muito com o que a autora explicava, precisava que alguém me explicasse algumas coisas e parece que foi como se viessem respostas ao meu encontro. Estava tão mas tão bloqueada, queria escrever, libertar-de tantos e imensos pensamentos e emoções e não conseguia ficava parada, não saia uma palavra. Às vezes a mágoa consegue ascender níveis de intensidade complexos. Pensei tantas e diversas coisas que gostava de as ter memorizado todas. Olhei para mim de dentro, de bem de dentro. E foi tão libertador. Sinto que absorvi demasiadas energias negativas, que as colhi no meu peito enquanto passaste por mim e tu foste vazio de negativismo e energias pesadas e eu fiquei com elas para mim de recordação mesmo que inconscientemente. Essas energias tem-me consumido, tenho-as revivido profundamente. E tem sido um fardo bastante duro de aguentar. Era mais fácil partilhar e fazer com que dispersassem com as nossas energias conjuntas. Fazíamos magia, era tão bom. 
Às vezes não temos noção da intensidade da carga negativa que carregamos e da força que tem para nos bloquear e crescer. Para nos sentirmos bem connosco e com o mundo. 
Carrego comigo a mágoa do abandono, da falta do sentido de pertença, da falta de amizade, da falta de não existires fisicamente para mim num mundo mais saudável. Carrego a mágoa de não partilhares comigo as tuas alegrias, carrego comigo aquela metade oculta, carrego comigo a obscuridade do teu pequeno mundo que te recusas a partilhar. E vem ao de cima aqueles pensamentos obscuros, a tua face sem aquele sorriso que me derrete, o teu corpo tenso desejoso de mimo e afecto, o teu olhar perdido e disperso que não conseguia agarrar horas a fio perdidas nos segundos e horas infindáveis de vazio em que estavas algures e não ali comigo. Foram horas de angústia. É impossível veres alguém sofrer e não dares colo e quereres cuidar até sarar as feridas. Mas e se as feridas ficam comigo? Como me protejo? Estou a descobrir aos poucos sem ti. É incrível o estado a que chego sempre que alguém parte... como me afunda. Como volto a tocar no fundo, como deixo de acreditar em mim, como o mau estar se instala? Como o milagroso tempo me corrói.. como a ausência se torna a droga poderosa que me absorve e deixa louca a ansiar por mais uma dose de loucura. Só mais uma dose, eu quero.... caramba que sentimento recorrente. Que fogo que arde. Como se tira daqui. Como te tiro daqui se te quero aqui constantemente. Como imaginar sentir-te se ao mesmo tempo me apetece fugir. Como se te vejo presencialmente o meu mundo fica destruído, qual tornado ou sismo de intensidade cortante. Como se tremo só de pensar. E, inacreditavelmente sinto uma paz tremenda por perceber que te quero ardentemente e com todas as forças, custa-me aceitar perder uma intimidade que deu tanta luta a germinar e a criar raízes tão fundas. Custa-me aceitar que não te preocupas, que não estás presente, que se pode perder tudo assim .... sem rasto. Custa-me sequer pensar deixar alguém tocar-me ... dói-me, dói-me tanto... E se sei que já não és meu ...que voaste lindo e livre como aprendeste a ser. Que o teu sorriso de felicidade é genuíno porque me dói? Não devia doer ver-te feliz. Mas dói demasiado, corta-me, mata-me aos bocadinhos. Acelera-me os sentidos, descontrola-me. E recomeça tudo de novo, foram preciosos estes momentos de clarividência. Preciso de dormir e de um abraço.