sexta-feira, março 21, 2014

Salsugem


"Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu....como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas esperando o mar
e a longitude do amor embarcado.....
....por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite...
....os dias lentíssimos....sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta.... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci.... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão....
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me
uma pérola no coração. Mas estou só, muito só,
não tenho a quem a deixar.)
 

Um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta....  

Inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite
a felicidade." 


Al Berto 



 Existe qualquer na poesia uma magia de tocar o coração e fazer expressar o mais calado dos sentimentos. Sorrio para a grandeza de poetas maravilhosos e alimento-me da pequenez das palavras que se unem numa mensagem sublime e doce. Boa noite!