É estranho sentir uma quietude muda após um grande momento de sofrimento... daqueles que nos fazem contorcer vezes sem conta entre os lençóis de pensamentos que nos envolvem e fazem remoer cada momento como tratasse de um video, para a frente e para trás. Pára aí! Deixa ver melhor, carrega em pausa. Deixa-me visualizar bem, deixa-me sentir cada pormenor cada cor, cada gesto da imagem em stand by, que deixaste gravada em mim. Ora a mágoa não passou mas sem perceber bem já te perdoei. Irrita-me saber, sentir que te perdoei! Parece que a mágoa diminuiu depois de dias de mau estar intenso e infinito para um nível menor menos doloroso. Como se de um momento para o outro todo o sofrimento se esvaisse com um sopro que arrepia mas sabe bem. Como se todo este tempo de silêncio amenizasse a dor. Não percebo porque na altura o tempo corroía o meu interior. Matavam-me aos poucos os segundos, as horas, os dias, as semanas. E tu nada fizeste, não te preocupaste, não tiveste consideração. Não consigo descortinar esta contrariedade. Não me encontro nesta quietude indefinida que me causa uma ansiedade moderada e irreflectida. É como se me habituasse às ausências, às falhas como se tivesse finalmente interiorizado que não existe vida sem dor, sem sofrimento. Como se deixasse de acreditar que algum dia a seta se virará para mim espontâneamente, caiem por terra todos os sonhos, todas as batalhas, todas as vitórias. O pedido de desculpa não foi suficiente. Não no fundo eu não te perdoei. O velho chavão as desculpas não se pedem evitam-se ecoa! Como eu gostava que tivesses um nível de consideração maior. Como eu merecia é mais a questão. Porque te escondes de mim?? É uma sensação de rejeição premeditada que apunhala qualquer vontade de te tentar perceber, de aceitar mais uma crise entre muitas. É o encher da última gota do copo, que não sei porquê ainda não transborda.