quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Ler as emoções

" A raiz do altruísmo reside na empatia, na capacidade de ler as emoções dos outros; quem é incapaz de sentir as necessidades ou o desespero de outra, não pode amar. " Daniel Goleman


Todos nós já experienciamos em alguma altura da vida a incapacidade de outrem para nos entender, ou aliás, não é preciso que nos entenda é preciso que consiga ser empático o suficiente para sentirmos que está ali alguém que se preocupa, que nos ouve no matter what. É preciso que tenha uma postura de receptividade, que assuma uma expressão isenta de crítica, isenta de todas as expressões verbais e não verbais que nos fazem calar pois por mais que nos tentemos fazer entender a posição do outro pode ser tão antagónica que desistimos no primeiro segundo de partilhar.E isso faz-nos tão mal, ficar com as palavras atravessadas sem alguém para nos ouvir.
Podemos sentir isto nos mais diversos contextos, no trabalho, em casa, com os amigos e com a pessoa que mais amamos.
Neste último caso, pergunto-me qual será o limite que nos impomos para estar com alguém quando começamos a sentir que não existe qualquer empatia, não pelo ser com que me relaciono mas com toda a pessoa que existe para lá desse relacionamento. Podemos ser diferentes, ter hobbies distintos, amigos em grupos opostos mas existe no fundo um certo conjunto de valores que não podem deixar de existir e ser compartilhados para que a relação sobreviva positivamente. 
Não percebo porque não consigo racionalizar a falta de empatia para comigo e interpretar isso como distanciamento afectivo. Inexistência de laços verdadeiros e de valores partilhados.
A incapacidade do outro sentir o meu sofrimento e continuar a agir indiferentemente mesmo quando não posso ser mais clara e demonstrar o quanto estou mal numa tentativa de pedir ajuda ao causador do sofrimento. Quando nesta situação alguém continua indiferente... Já vivenciei uma experiência limite em que isso me ajudou a afastar da pessoa e eventualmente o sentimento de sofrimento serenou depois de meses a fio, quase um ano. Consegui perceber que não podia nem mesmo ser amiga e dar importância a alguém que não estava lá para dar e receber numa simples relação de amizade. Foi um verdadeiro murro no estômago a ausência de partilha, a falta de diálogo após a revelação de uma das partes estar em sofrimento. 
Mas não deixa de me  causar estranheza, incompreensão, estamos sempre a mudar, consigo compreender que nem todas as pessoas se encontram na mesma curva de crescimento emocional mas não consigo não me sentir horrorizada. Completamente desorientada pela ausência de diálogo, de empatia, de valores, sobretudo. Estou faz já muito tempo noutra situação a tentar ultrapassar a frieza que a indiferença que me trespassa o coração todos dias, não percebo porque não consigo desligar deste sentimento de incompreensão, porque mantenho o olhar sobre a situação à espera de closure, de um pouco de paz, de valores, de humanidade. Como se muda tanto, como se evita tanto alguém a quem um dia no tempo dedicamos tantas horas e carinho? Causa-me estranheza, causa-me sofrimento atroz. Não devo saber viver o luto das ausências mas sobretudo quando não compreendo não consigo andar em frente. Mas se sofro por tempo demais, ao fim ao cabo sinto-me uma pessoa melhor por acreditar, por ter valores. Por esperar das pessoas mais ... mesmo que estas se afastem e estejam felizes. Continuo a não perceber. Já me disseram que não tenho que entender tudo. Mas é essa falta de encaixe que me falta deixar fluir o distanciamento. É como se estivesse num entroncamento, a pessoa seguiu um caminho e eu fico ali à espera que volte, demore o tempo que demore para conversar e chegar àquele momento em que ambos fiquemos em paz para aí sim cada um poder fluir positivamente e seguir o seu caminho. E se apesar de várias tentativas as pessoas não voltam aquele entroncamento? Causa-me tristeza. Mói-me o juízo, passam meses mas eventualmente até esse sentimento se esgota em si mesmo. Entristece-me o quanto as relações são fugazes, o quanto não se baseiam em valores de respeito, empatia e energia positiva. A falta de co-responsabilidade social. Ninguém é uma ilha, no entanto todos temos pequenas ilhas no coração que guardamos como pequenos oásis onde um dia o amor foi eterno mas onde não se pode tocar, nem voltar.