Ser quem sou. Aceitar-me. Conhecer-me. Percorrer os caminhos do modo mais difícil. Começa a ser mais cansativo do que posso suportar. Acordo de um coma assustador. Olho-te lá atrás. Não sei de ti, nem sei
se quero saber. Receio que todo o sofrimento que passou volte e me
absorva na sua teia sombria. Olho-te numa imagem de vislumbre e não sei
como foi possível a vida ter pintado certos momentos com nuvens e tons
sombrios que me sufocaram e desfizeram por dentro.
Sei o quanto bati fundo, mas também sei o quanto aprendi. O quanto o sofrimento me obrigou a perseguir um entendimento, das pessoas e das relações humanas. Sei o quanto pude perceber quem fui desde a infância e até aos dias de hoje. Quem me conhece consegue analisar o quanto a minha vida teve mais baixos que altos. Perceber que a tristeza nos rouba e suga a vida. Perceber o mergulho sombrio em águas demasiado turvas para se encontrar um caminho. Senti durante estes últimos sete meses, um alivio tremendo quando me deparei com certas verdades. Pude finalmente perceber o quanto fiz opções erradas. O quanto mantive as pessoas erradas e o quanto não dei oportunidades a pessoas que podiam ter sido as certas. Agora é tão claro, o quanto aceitei sempre menos do que merecia. O quanto por amor me deixei toldar e o quanto não deixei o racional falar. O quanto não me cuidaram... o quanto não se deram ao trabalho de me conhecer verdadeiramente. O quanto não partilharam comigo. E existe no meu pranto uma mágoa, uma tristeza que não me sai do regaço. Existe um olhar para o passado recorrente. Existe um sufoco desmedido de não pertencer, de não existir. Um desespero refinado de uma dor que se intensifica quando vejo como confio e me dou a níveis inacreditáveis. Depois para levantar do chão são anos a colar os pedacinhos. Hoje quebraram-se mais pedacinhos, porque não encontrei forças.