Quando chegamos a uma altura na vida em que temos que deixar de ouvir determinadas músicas porque vão para além do que podemos aguentar, sabemos que muita coisa tem que mudar. Não consigo ouvir aquela música. A sua beleza transformou-se na lágrima que irei segurar quando a ouvir. Mas sabemos sobretudo que existem sentimentos que simplesmente não temos o dom de apagar ou evitar. Cada vez mais me apercebo do que as pessoas tentam apagar para conseguirem continuar em frente. No fundo sei que algures no tempo, naquele microsegundo em que deitam a cabeça para dormir, pestanejam porque também se lembram.
Mas por cada dia que o evitarem cada vez mais e durante menos tempo pensarem é mais fácil, as probabilidades que desapareça aquela memória talvez seja mais fácil. Mas e aqueles que não querem esquecer? Aqueles que fazem por lembrar porque sim, porque a vida não se apaga. Porque a dor existe e temos que avançar através da sua aceitação? Será justo todo o sofrimento? Será justo sentir-se que as pessoas não são as mesmas ou agem como se não fossem aquela que um dia nos abraçou forte e chorou no nosso colo. Será justo que a partilha e a cumplicidade deixe de existir apenas porque sim? Para além das relações amorosas somos pessoas, seres vivos sensíveis, que partilhamos momentos e vidas e que crescemos juntos. Serão as pessoas tão frias, para seguirem em frente como se as pessoas deixassem de existir? Neste mundo das relações todos temos muito a aprender, crescemos, tornamo-nos pessoas melhores, pelo menos alguns de nós tentamos. Saberemos que crescemos e somos pessoas melhores quando já não doer o convívio ou a ausência. Quando guardarmos apenas o que é bom de guardar, quando soubermos juntar os pedacinhos, olhar para trás e dar a mão a quem um dia nos deu o seu mundo e partilhou cada dia de forma única, nem
que fosse por momentos. Ou não, será utopia? Inocência? So hard to find?
que fosse por momentos. Ou não, será utopia? Inocência? So hard to find?