"A vossa alma é muitas vezes um campo de batalha, em que a vossa razão e o vosso julgamento estão em guerra contra a vossa paixão e o vosso apetite. Pudesse eu ser o pacificador da vossa alma e transformaria a discórdia e a rivalidade dos vossos elementos numa união e melodia. Mas como o poderia fazer, a menos que vós também fosseis pacificadores, amantes de todos os vossos elementos? A vossa razão e a vossa paixão são o leme e as velas da vossa alma navegante. Se um de vós navegar e as velas se partirem, só podereis andar à deriva ou ficar imóveis no meio do mar. Pois a razão, só por si, é uma força confinante; e a paixão, não controlada, é uma chama que arde provocando a sua própria destruição. Por isso deixai a vossa alma exalar a vossa razão até ao auge da paixão, de forma a poder cantar. E deixai que ela oriente a vossa paixão com razão, de forma a que a vossa paixão possa viver através da sua ressurreição diária, e, qual fénix, renascer das próprias cinzas. Eu comparo o vosso julgamento e o vosso apetite com dois hóspedes queridos que recebeis na vossa casa. Com certeza não irieis favorecer um mais que o outro; pois aquele que o fizer perderá o amor e a confiança dos dois. Entre as colinas, quando vos sentais à sombra fresca dos brancos álamos, disfrutando da paz e serenidade dos campos e prados distantes deixai o vosso coração dizer silenciosamente.
E quando vier a tempestade, e o vento forte assolar a floresta, e a trovoada e os relâmpagos proclamarem a majestade do céu, deixai que o vosso coração diga ..."
Da razão e da paixão, Kahil Gibran, in O profeta