"Deito fora as imagens, sem ti para que me servem as imagens? Preciso
habituar-me a substituir-te pelo vento, que está em toda a parte e cuja
direcção é igualmente passageira e verídica. Preciso habituar-me ao eco
dos teus passos numa casa deserta, ao trémulo vigor de todos os teus
gestos invisíveis, à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve a não
ser eu. Serei feliz sem as imagens. As imagens não dão felicidade a
ninguém. Era mais difícil perder-te, e, no entanto, perdi-te. Era mais
difícil inventar-te, e eu te inventei. Posso passar sem as imagens assim
como posso passar sem ti. E hei-de ser feliz ainda que isso não seja
ser feliz."
Raul de Carvalho
Raul de Carvalho