segunda-feira, novembro 14, 2011

Healing Process


Estou a tentar aprender de novo a viver no meu silêncio, na minha bolha de privacidade, na minha solidão outrora, tão preciosa e tão necessária. Depois da tua passagem a minha solidão parece um filme de terror. Como diz o poeta, já não sei andar só pelos caminhos. Parece a coisa mais assustadora que terei que re-aprender. O meu telemóvel ficou mudo e quando dou por mim, na ilusão de que ainda estás comigo, ainda espreito ao de leve... As mensagens de bom dia, de boa noite, as mensagens até altas horas incessantemente já não existem, em vez disso o silêncio. As horas a fio, o tango conversacional terminou. A dança que era a nossa comunicação do dia-a-dia, a dança feliz em que nos inebriávamos terminou. Já não existe um único som para contar história. E, por outro lado, existem tantas músicas que me dedicaste, quando vou a conduzir e alguma delas dá na rádio ainda me cai uma lágrima ou outra. Os dias sem ti... a luta... a vida que valia a pena ser vivida nas asas do teu voar... são frases que trago cravadas em mim.
Ainda... fecho os olhos e consigo ver-te a receber-me no elevador, a abraçar-me, a mimar-me, a amar-me. Ainda, te consigo ver a deslizar a face com o teu sorriso enquanto a porta do elevador se fechava. Ainda consigo relembrar o barulho enervante do borbulhar do aquário na sala. Ainda nos vejo no teu sofá preto de olhos esbugalhados a ver aquele programa de culinária. Ainda me lembro do pôr-do-sol na tua varanda.
Cada vez que vejo o rio, a ponte, o nosso sítio, sorrio e lembro-me da tua frase: somos pessoas desta margem. Éramos pessoas daquela margem, com lugar reservado para a paisagem deslumbrante e apaixonante. No outro dia passei por lá e vi um casal no nosso sítio e gritei de raiva, de dor.
Lembro-me da primeira vez que ouvi a tua voz, ao telemóvel quando nos encontramos, lembro-me o quanto me bateu o coração, enquanto ia ao teu encontro sobre a ponte já gelada de tanto frio. Lembro-me. Estás aqui. E é um processo excruciante não saber de ti, quanto mais tirar-te daqui. Aos poucos, dia sim... dia não... vou conseguindo... a solidão volta a preencher os espaços, o tempo, a vida. Perco-me no ciclo vicioso, ora negação, ora raiva, ora depressão... um dia talvez consiga subir ao degrau da aceitação. Aceitar que decidiste partir é doloroso, mais do que poderia imaginar. Estou em busca da luz, da minha luz interior. No entanto, dava tudo, tudinho para ver a tua.