segunda-feira, outubro 09, 2006

Leitura Interrompida



No meio das coisas,
com o
sentimento certo de que amanhã
é um espaço entre o centro
e o cume,
desenhando apenas a linha de
prumo do sol que há-de nascer,
espreito
por cima do teu ombro
a página em que
ficaste, e te fez pensar.
Que sonhos nasceram por entre as palavras,
que imagem ou nuvem te passou pelos olhos,
e te levou com ela, até ao limite de um puro relâmpago?
Desfaz com as tuas mãos a tapeçaria do segredo;
e espreita o que
vai surgindo por entre os fios,
e traz
o que parecia ter passado,
e morrido
com o tempo.
Não te distraias com o
pensamento; e volta a página,
para
saberes o que vem a seguir.
Mas se
não o fizeres, e se uma respiração antiga te fizer murmurar de novo as frases do amor, fecha o livro,
como
se já soubesses
o que vai acontecer.


Nuno Júdice