Eduardo Viana
k4. O quadro do azul - 1916
Com diversas formas, cores e sabores e nada de saudosismo!
That's my new year wish!
Os dias azuis são e serão sempre dias felizes. Se não fossem os dias azuis eu não seria quem sou...
És uma faca cravada na minha vida secreta.
E como estrelas duplas consanguíneas, luzimos de um para o outro nas trevas."
A carta da paixão, Herberto Helder
O tempo nestas alturas flui com uma lentidão profundamente dolorosa. Porque o tempo de distanciamento dos dias de música, dos dias de afectos se tornou insuportável.
Os dias deixaram de ser forrados de azul e salpicados de estrelas. Dormir, o sono dos justos é o estado mais repousante que consigo alcançar nos dias que correm. A dolorosa despedida dos meus lençóis... quentinhos, ao longo dos tempos estabelecemos uma relação patológica, uma dependência!
Semanas camufladas de azul, um azul que não se vê bem mas que se sente, apesar da poluição atmosférica que impede um olhar transparente de um azul profundo que não se vê mas que se sente. Um toque, dois, três ....que me tocam, a tua ausência presente!
Uma amálgama de situações antagónicas e martirizantes, verdadeiramente dolorosas e ao mesmo tempo terrivelmente doces e apetecíveis.
Um contentamento descontente, um mar de sensações e afectos em que mergulhamos na tentativa de encontrar um tesouro perdido.
Certo tipo de dor é inevitável quando se vive um grande amor e nunca se entende muito bem essa perda.
Dispo-me de intenções, numa hemorragia de sonhos que se escapam nas entrelinhas do desejo e da vontade de alcançar o azul. Por todos os poros transbordo desilusão!
Hoje ondulei pelo dia sem saber bem porque o sentia derradeiramente nostálgico, não mudou nada e ao mesmo tempo parece que mudou de forma avassaladora.
Anoiteceu e hoje apetece-me quente, apetece-me cobertores e um bom filme. Hoje apetece-me sonhar com um amanhã diferente. Hoje apetece-me relembrar-te esquecendo-te, esquecer-te relembrando-te.
"Agora que o silêncio é um mar sem ondas, e que nele posso navegar sem rumo... Não respondas às urgentes perguntas que te fiz, deixa-me ser (in)feliz assim, já tão longe de ti como de mim. Perde-se a vida a desejá-la tanto. Só soubemos sofrer, enquanto o nosso amor durou. Mas o tempo passou, há calmaria... Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria matar a sede com água salgada."
Iannis: When you fall in love, it is a temporary madness. It erupts like an earthquake, and then it subsides. And when it subsides, you have to make a decision. You have to work out whether your roots are become so entwined together that it is inconceivable that you should ever part. Because this is what love is. Love is not breathlessness, it is not excitement, it is not the desire to mate every second of the day. It is not lying awake at night imagining that he is kissing every part of your body. No... don't blush. I am telling you some truths. For that is just being in love; which any of us can convince ourselves we are. Love itself is what is left over, when being in love has burned away. Doesn't sound very exciting, does it? But it is!
Iannis: [writing to Corelli] Antonio, I do not know if this letter will reach you, or even if you are alive. Perhaps someone else sent your record, and that is why we found no note. I would like to say that Pelagia is happy, but she is full of tears she will not let fall, and of a grief no doctor can mend. She blames herself for the pain we have suffered, and perhaps the same is true for you. You know I am not a religious man, but I believe this: if there is a wound, we must try to heal it. If there is someone whose pain we can cure, we must search till we find them.
George: Do I still Love you? Absolutely. There is not a doubt in my mind. Through all my mind, my ego... I was always faithful in my love for you. That I made you doubt it, that is the great mistake of a life full of mistakes. The truth doesn't set us free, Robin. I can tell you I love you as many times as you can stand to hear it and all that does, the only thing, is remind us... that love is not enough. Not even close.
George: I always thought of myself as a house. I was always what I lived in. It didn't need to be big. It didn't even need to be beautiful. It just needed to be mine. I became what I was meant to be. I built myself a life. I built myself a house.
George: You know the great thing, though, is that change can be so constant you don't even feel the difference until there is one. It can be so slow that you don't even notice that your life is better or worse, until it is. Or it can just blow you away, make you something different in an instant. It happened to me.
P.S. I sure hope it happens to me and you...
A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos
espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto à beira-mar
outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
Your heart is broken, and you don’t seem to mind
I guess it happened a little too many times, too many times
You try and you got tired, those long a brighten stories
You weald a fire right under the snow
They don’t they don’t
How could they really know
They don’t
They don’t know how it really feels
They’re just on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance
Dance with you
I felt like superstars do
Me and you
We’re just like superstars
I was around you
You couldn’t really tell
I held you close while
While you drove, you just drove into hell
You know!
A kind of hurt that burns
A light that loves you blind
And while your feet go
They go deeper in the sand
You wave and drown
You rave to the crown that says
But they don’t know how really feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance with me
Yeah you did that crazy dance
You did that crazy dance with me
You did that crazy dance (7x)
Coz they don’t know how it feels
They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see us cry?
Do you remember me?
I was the one that held you through
I held a spot light when you did that crazy dance to me
As I dance whith you
I felt like superstars do
Me and you
We felt like superstars
Me and you (2x)
In_love_by_angrymouse
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas
Fechem as escolas
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto
Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros
É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas
…
É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta
…
Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo que
inventou o amor com carácter de urgência
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
Daniel Filipe, 1972
In a invenção do amor e outros poemas
O que eu sinto é como um rizoma…
Toda eu sou rizoma ramificações de sentimentos e vivências que se expandem em direcções indeterminadas. O núcleo arrancas-te-me hoje, não existe, nunca existiu. Pobre de quem acredita no bom fundo das pessoas. Quebrou-se o vidro. Sinceridade outrora foi palavra-chave. Gélida, entorpeço! Já não me corre vida nas veias apenas uma amostra de vida. Já nem tenho palavras… parou-me o relógio central com o susto. Do núcleo e do profundo fugiu a lágrima que não mereceste …qual facada pelas costas. Estilhaços de mim pelo chão... e desta vez eu não tenho forças para apanhar, eu não tenho fé, eu não tenho nada.
Não gosto de sabores mesclados e misturados,
Gosto de cada sabor no seu lugar.
Não gosto de sentir pedaços,
Gosto dos sabores por inteiro.
Penso em ti: sinto em mim a nostalgia
desse abraço que fica tão distante
e, mesmo assim, nos liga dia-a-dia
e nos aproxima a todo o instante.
Penso em ti: sinto em mim essa tremura
que se espalha ao longo dos meus braços
e te envolve comigo na ternura
com que te aperto a mim, em mil abraços.
Penso em ti: e respiro bem melhor
por saber que te tenho ao meu lado
e que o ar que respiro é o calor
da aragem da amizade em duplicado.
Penso em ti: e pensar é já viver
contigo residindo no meu peito
aprendendo, afinal, a conviver
contigo, tal qual és, desse teu jeito.
E sinto que afinal valeu a pena
sentir como tu sentes a vontade
de viver assim, de forma plena,
este sabor intenso da Amizade.
Fernando Peixoto in "Penso em Ti"
O sol dos Sonhos derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida...
Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.
Miguel Torga
PALAVRAS
Não largo um amor sonhado pelas palavras sentidas que acordam os abismos
SEXO MATEMÁTICO
uma vez dancei contigo o teu corpo a sentir não esqueci
AMOR ARITMÉTICO
amo adoro sou louco por todo e qualquer milímetro de teu corpo dividido em
AMOR GEOMÉTRICO
mãos de amor e afecto percorrem superfícies geodésicas de tuas carnes curvas
João Costa in www.pedravermelha.com
Há um brusco agitar e o roçar de algo que escorrega brandamente, lubrificado por águas espessas. Há um urgente impulso para a frente, uma viragem na postura. Há um tacto desconcertado, a passagem de uma fronteira elástica, uma comichão dolorosa, uma luz que fere, uma agitação desconhecida e rítmica, algo que abre caminho desde dentro, um grito.
in Aprender a viver by José António Marino (2007)
Apenas tenho que virar
A minha vida de pernas para o ar
E procurar uma casa para eu morar
Um pequeno T2 onde podemos viver os dois
Com vista para o mar e um jardim
Um carro com tecto de abrir
"Como as gaivotas e as ondas se encontram, nos encontramos e nos unimos.
Vão-se as gaivotas voando, vão pairando sobre as ondas; e nós também vamos.
Se de noite choras pelo sol, não verás as estrelas.
Se faço sombra em meu caminho, é porque há uma lâmpada em mim que ainda não foi acesa.
Teu sol sorri nos dias de inverno de meu coração, e não duvido jamais das flores de tua primavera.
Quando o dia cai, a noite o beija e lhe diz ao ouvido:
Sou tua mãe a morte, e te hei de dar nova vida'.
O mistério da vida é tão grande como a sombra na noite.
A ilusão da sabedoria é como a névoa do amanhecer.
A borboleta conta momentos e não meses, e tem tempo de sobra.
Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.
Cada criança nos chega com uma mensagem de que Deus ainda não se esqueceu dos homens.
Elogios me acanham, mas secretamente imploro por eles."